quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Cor da Saudade...



Era uma vez uma menina que tinha como seu melhor amigo um pássaro encantado.

Ele era encantado por duas razões: - Primeiro, porque ele não vivia em gaiolas vivia solto, vinha quando queria. Vinha porque a amava. - Segundo, porque, sempre que voltava, suas penas tinham cores diferentes, as cores dos lugares por onde tinha voado. Certa vez, voltou com penas imaculadamente brancas, e ele contou histórias de montanhas cobertas de neve. Outra vez, suas penas estavam vermelhas, e ele contou histórias de desertos incendiados pelo sol. Era grande a felicidade, quando eles estavam juntos. Mas sempre chegava o momento quando o Pássaro dizia: - Tenho de partir. A menina chorava e implorava: Por favor, não vá. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar... Eu também terei saudades, dizia o Pássaro. Eu também vou chorar. Mas vou lhe contar um segredo: eu só sou encantado por causa da saudade. É a tristeza da saudade que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. E eu deixarei de ser o pássaro encantado. Você deixará de me amar. E partiu... A menina, sozinha, chorava. E, numa noite de saudade, ela teve uma idéia: Se o pássaro não puder partir, ele ficará. Se ele ficar, seremos felizes para sempre. E, para ele não partir, basta que eu o prenda numa gaiola. Assim, a menina comprou uma gaiola de prata, a mais linda. Quando o pássaro voltou, eles se abraçaram; ele contou a ela lindas histórias e adormeceu. A menina, aproveitando-se do seu sono, o engaiolou. Quando o pássaro acordou, deu um grito de dor: - Ah ! menina o que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das histórias. Sem a saudade, o amor irá embora. A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isso que aconteceu. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas, transformaram-se em um cinzento triste. E veio o silêncio. Deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não era aquele o pássaro que ela amava. E de noite chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola. - Pode ir, pássaro, ela disse. Volte quando você quiser... - Obrigado, menina, disse o pássaro. - Irei e voltarei quando ficar encantado de novo. E você sabe: - Ficarei encantado de novo quando a saudade voltar dentro de mim e dentro de você...


Quantas vezes, em algum determinado momento, aprisionamos a quem amamos, pensando que estamos fazendo o melhor? Muitas vezes, deixar livre é uma forma singela de o ver voltar... Tudo que amo deixo livre... porque, se voltar, é sinal de que o conquistei; ....se não voltar, é porque nunca me pertenceu.

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